- Titulo original: The Substance
- Ano de lançamento: 2024
- Genero: Terror
- Duração: 2h20
- Nacionalidade: EUA/Reino Unido
- Censura: 18 anos
Indicação por Priscila Cavalcante - Promotora de Justiça e Associada da APMP
“A Substância trata de uma droga mortal, mas sua característica mais tóxica é como ela reforça uma necessidade inútil de validação externa. A imagem final do filme exprime a distância horrível que as mulheres percorrem para provar a admiração que almejam - apenas para serem eliminadas da relevância cultural em um instante.”1
O filme teve sua estreia, no 77o Festival de Cinema de Cannes, em 19 de maio de 2024, no qual Coralie Fargeat venceu o prêmio de melhor roteiro. Recebeu ainda o Prêmio Mostra Midnight Madness/People’s Choice Awards, no Festival de Toronto, em 15 de setembro de 2024. Atualmente, encontra-se disponível na plataforma de streaming, Mubi2. O trabalho da diretora e roteirista, Coralie Fargeat, pode ser visto também nos filmes “The Sandman” (2022), “Vingança” (2017) e “Reality+” (2014). Destaca-se que ela é membro e uma das fundadoras do Collectif 50/50, cujo objetivo é trabalhar pela igualdade de gênero na indústria cinematográfica.
Trata-se de um filme do subgênero de horror-corporal (“body-horror”), que conta a história de uma celebridade, Elizabeth Sparkles (Demi Moore) que, aos cinquenta anos, e diante da decadência de sua carreira, decide utilizar uma misteriosa substância clandestina e submeter-se a um processo de clonagem caseira, cujo resultado é uma versão mais jovem, alegre e enérgica, chamada Sue (Margaret Qualley), que assume seus compromissos profissionais, gerando um conflito entre as duas versões que gera a sua destruição mútua.
O rigor visual e cenográfico surge meticulosamente nas cenas, com enquadramentos explícitos e incômodos, que transbordam a referência a outros filmes, como “O Iluminado” (Stanley Kubrik, 1980), “O Enigma de Outro Mundo” (John Carpenter, 1982), “A Mosca” (David Cronenberg, 1986) e “Réquiem para um sonho” (Darren Aronofsky, 2000). A trilha e os efeitos sonoros transportam o telespectador a um universo agonizante, assustador e repulsivo. A narrativa, por sua vez, remete ao filme noir, “Crepúsculo dos Deuses” (Billy Wilder, 1950), cuja protagonista, Norma Desmond (Gloria Swanson), é uma atriz de cinema mudo, que dolorosamente não aceita o apagamento de sua carreira, na transição para os filmes falados e sonha com um roteiro que lhe proporcionaria um retorno triunfal.
A atriz Demi Moore, ícone de grande sucesso nos anos 1990 (Ghost, 1990; Questão de Honra, 1992; Proposta Indecente, 1993; Assédio Sexual, 1994; Striptease, 1996; G.I. Jane, 1997), encarna com extrema ousadia uma artista em transição entre o brilho da fama (“Sparkles”, seu sobrenome) e a decadência, a partir da transformação do seu corpo e da sua percepção de beleza. Este conflito atemporal é profundamente sentido pelo expectador, sobretudo feminino, ao encarar o espelho, em um mundo em que o crescimento da dor é proporcional ao fenecimento da juventude. A partir de uma direção ácida e uma estética destemida, a dicotomia entre corpo e imagem, consumo e descarte ou luz e escuridão, retrata-se perfeitamente em um roteiro que conduz, paulatinamente, a autofagia de uma estrela.