- Titulo original: Niketche: uma história de poligamia
- Ano de lançamento: 2021
- Autor(a): Paulina Chiziane
- Genero: Literatura, ficção
- Páginas: 336
- Nacionalidade: Brasil
A literatura descortina cenários através das narrativas e percepções dos personagens, possibilitando ao leitor conhecer outras realidades e perspectivas. Em Niketche: uma história de poligamia, a autora Paulina Chiziane explora o cotidiano de mulheres, seus sentimentos e relacionamentos, através da lente da protagonista Rami, esposa do chefe de polícia Tony, com quem mantem um casamento pautado pelos valores ocidentais, nos últimos anos do século XX. Com essa obra a autora moçambicana, primeira mulher a ser publicada em seu país, recebeu por unanimidade o maior reconhecimento literário da língua portuguesa, na 33ª. edição do Prêmio Camões, em 2021.
A história se passa na zona urbana de Maputo, capital de Moçambique, que apenas em 1975 encerrou seu processo de independência de Portugal, seguido de guerra civil entre o norte e o sul. Rami, uma mulher criada de acordo com os valores ocidentais, atribui exclusivamente a si e ao seu envelhecimento o desinteresse e constante ausência do marido Tony. Porém, na sua trajetória de sofrimento, constata que divide o marido com outras mulheres, cada qual representando os grupos étnicos e a multiplicidade dos estereótipos do feminino que compõem a sociedade moçambicana, em sua potência, desejos e necessidades. Ao conduzir o fio narrativo pela ótica das mulheres, a autora Paulina Chiziane questiona a submissão feminina tanto na herança colonial quanto na tradição africana da poligamia informalmente tolerada, com prejuízo principalmente às mulheres e crianças.
O título Niketche refere-se à dança de iniciação sexual das mulheres da Zambézia, uma das províncias da região norte do país, que valoriza o feminino como símbolo de fertilidade, sensualidade e beleza, e a obra promove uma reflexão sobre a necessidade de superação dos modelos rígidos e sexistas impostos sem questionamentos, apontando a parceria entre mulheres como uma possibilidade de (re)descoberta do potencial da sociedade africana.
Mônica Louise de Azevedo - Procuradora de Justiça