Indicação e resenha por Heloise Bettega Kuniyoshi Casagrande:

O livro “Vista Chinesa” nos hipnotiza em um enredo forte, cru e contundente.

O paradoxo entre o Rio de Janeiro de 2014, pujante, prestes a receber as Olimpíadas e uma mulher que se vê arrebatada por um episódio que marcará memória em cada centímetro de seu corpo e sua mente.

Nas linhas extremamente bem cravadas pela hábil escritora Tatiana Salem Levy, acompanhamos a personagem fictícia Júlia, sócia de um escritório de arquitetura. Uma mulher que alcançou equilíbrio na vida pessoal, com família estruturada, um namoro estável, amigos presentes e sucesso profissional.

Um dia resolve trocar o horário de sua corrida de sempre e, em meio à Mata Atlântica que permeia a cidade maravilhosa, no mesmo lugar onde todos os dias estava acostumada a se livrar do stress em forma de suor nas corridas, vê-se acuada sob a mira de um revólver empunhado por um criminoso.

Um estupro. Na vívida floresta, a violação máxima e tudo que decorre a partir de um acontecimento trágico na vida de uma mulher que apenas saiu para correr.

O encontro entre a corredora e um estranho de luvas.

A aflição, o desespero, e, de outro lado, a importância da reflexão sobre o poder da família, das amizades, da superação e a necessidade de avanços no sistema de justiça em relação ao tratamento das vítimas de violência.

Um livro que tira o fôlego e o sossego, mas também nos remete a profundas discussões sobre o feminino, a violência, a burocracia e o papel de cada um(a) de nós em tal cenário.

Separe um tempo para ler essa obra incontornável. Quando você começar, não conseguirá parar até sorver a última linha. E, ao final, descobrirá que se trata de um livro ainda mais forte e franco do que parecia ser. E, certamente, você terá muita vontade de conversar sobre ele com alguém. Conversemos.