Uma promotora idealista, inteligente, realizadora. Uma pessoa sempre feliz e alegre, independente das circunstâncias… essa é a definição de quem conviveu com a procuradora de Justiça do Ministério Público do Paraná (MPPR), a associada Édina Maria Silva de Paula. Uma mulher agregadora, capaz de reunir pessoas com diferentes perfis numa mesma causa.
Durante a vida conseguiu equilibrar o amor pela família e pela profissão, sem deixar de lado um estiloso chapéu e o salto alto. Foi esse jeito agregador que marcou a vida de amigos, familiares e colegas e profissão. "O Ministério Público era o ar que ela respirava", define diretor de Pensionistas da APMP e Engenheiro Agrônomo aposentado, Amarildo Souza de Paula, que foi casado com a associada por 20 anos. Édina teve dois filhos: Leonam e Lívia Beatriz.
Os dois se conheceram em um baile de Carnaval em Santo Antônio da Platina, cidade natal de Édina e foi exatamente a alegria dela que o conquistou. Bastaram três encontros até estarem oficialmente juntos com papel assinado. “Após as dificuldades enfrentadas, ela chegava em casa e não se deixava influenciar. Gostávamos de tomar um vinho, comer risoto, aproveitar o tempo juntos. A nossa casa era um santuário”, recorda o saudoso esposo.
A personalidade marcante e a energia de Édina permeiam as recordações do filho mais velho, Leonam Felipe Maciel de Paula. “Minha mãe era a alegria em pessoa. Nunca tinha tempo ruim pra nada. Nunca vi minha mãe com preguiça. Esse é um fato forte dela. Estava sempre disposta, com sorriso no rosto. A vida dela era repleta de desafios. Independentemente do tamanho deles, ela sempre enfrentava com muita alegria. Não é à toa que ela ficou atuando na área da infância e da juventude”. O filho sempre a acompanhava nos eventos e uma das memórias marcantes eram as celebrações do Ministério Público. “Era um momento só nosso, em que estávamos juntos. Ela me apresentava. Era gostoso ser o filho da Édina”.
A caçula da família, Lívia Beatriz Maciel de Paula teve a vida marcada pela união familiar. “A gente falava que a minha mãe era ‘cola’, pois grudava todo mundo, aqui dentro de casa. Era sempre alto astral, alegre. Do jeitinho que as pessoas falam que ela era lá fora, ela era dentro de casa também. Gostava muito que ela abraçava sempre os amigos próximos que nós trazíamos para casa. A presença dela ali era algo que deixava todo mundo confortável, todos se sentindo em casa. É uma característica muito dela. Isso é uma coisa que faz muita falta da nossa convivência”.
A cozinha era o ponto de encontro. Lívia lembra que ela e a mãe adoravam cozinhar juntas, aprender novas receitas e tomar um vinho para acompanhar. “Beber um vinho e cozinhar era uma marca registrada aqui em casa. Era sempre um momento nosso. Minha mãe sempre gostou de inventar na cozinha. A comida dela fez muita falta. Chegamos até a fazer um curso de culinária juntas”.
Outra marca registrada de Édina era o chapéu, ela usava os mais variados estilos. Um hábito que trouxe do ano sabático na França, quando a família acompanhou Amarildo durante o doutorado. “Tenho boas lembranças dessa época. As lembranças mais vívidas da minha infância são dessa fase. Foi um ano que a minha mãe se desligou totalmente da parte de ser promotora e foi exclusivamente mãe”. Recordou Lívia.
Laços profissionais
A subprocuradora-geral para Assuntos de Planejamento Institucional do MPPR, Samia Saad Gallotti Bonavides conheceu Édina na graduação. As duas cursaram a faculdade de Direito, em Jacarezinho. “Nos encontramos na diversidade de nossas vivências, e construímos uma unidade confidencial das coisas que compartilhamos em momentos únicos. Sei disso porque quando estávamos juntas éramos somente nós duas. Era dona de um coração enorme, por isso a grande coragem com que enfrentou a vida. Venceu enormes desafios. Tinha atitude e garra feministas num guarda-roupas do mais puro estilo feminino, com saltos 12 e 15, o que era uma necessidade para uma baixinha faceira, cujo nariz era empinado e os olhos eram marcantes. Emoldurava tudo isso aquele sorriso invejável e uma gostosa gargalhada”.
A primeira lembrança da amiga foi quando convidada para acompanhá-la a São Paulo para comprar seu vestido de noiva do primeiro casamento. “Éramos as duas já promotoras, eu seria madrinha. Ainda lembro quando percorremos a rua das noivas, a rua São Caetano. O vestido escolhido era gracioso e foi trazido numa caixa, já devidamente ajustado e preparado”.
Édina deixou a sua marca em quem a conheceu. “A vida na companhia dela reservava momentos da mais pura descontração e boa comida. Era de uma casa de sete mulheres, e ninguém, que experimenta esta condição, passa a vida em branco, num mundo formatado para os homens. Por isso ela viveu intensamente. Enquanto houver pessoas com lembranças, haverá saudade e histórias sobre ela”.
A associada Susana Broglia Feitosa de Lacerda, promotora de Justiça com atuação na comarca de Londrina, recorda que conheceu Édina no final da década de 1990, em um almoço do Grupo de Estudos (GE) Santa Rita, de Jacarezinho. Susana Lacerda tinha acabado de assumir a comarca de Marilândia do Sul e comentou que, após este almoço, ela e seu marido acabaram se tornando muito próximos de Édina e Amarildo: “Fomos nos tornando muito amigos, estreitando os laços. Depois foram para a França e eu acabei saindo de Marilândia do Sul. Nesta época eu morei na casa deles enquanto buscava lugar para morar na cidade. Depois comprei um terreno próximo a casa deles, no mesmo condomínio, nos tornamos vizinhos”.
A relação de amizade se tornou cada vez mais forte e Édina se tornou madrinha de batismo da filha de Susana. "Era a amiga da minha vida. Onde ela entrava, iluminava os lugares. Era uma amiga incondicional e fiel. Depois que ela foi morar em Curitiba, não havia um dia que eu acordasse sem uma mensagem no WhatsApp dela”.
Outra característica forte da associada é que ela era muito aglutinadora e conseguia reunir pessoas de diversos tipos por uma causa em comum. "Pessoas que não sentariam na mesma mesa, ela conseguir envolver por um bem comum”, afirmou.
Em 2011, Édina de Paula se licenciou para ocupar função no Poder Executivo, como diretora-geral da Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania, a convite da associada Maria Tereza Uille Gomes, ex-presidente da APMP e ex-procuradora-geral de Justiça do MPPR, amiga e colega de profissão desde o início de sua carreira (atuação conjunta em Jacarezinho). “A Édina sabia enxergar as pessoas para além do processo”, enalteceu Tereza.
Ainda em 2011, foi promovida a procuradora de Justiça do MPPR e, mesmo assim, manteve a determinação em lutar pela materialização da promessa de plena efetivação dos direitos infanto-juvenis contida no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) na Constituição Federal. As duas se conheceram logo no início da carreira de Édina. "Tendo em vista essa atuação de Édina em diversas áreas do setor social, a convidei para a ser diretora-geral da Secretaria de Justiça. Com isso, ela veio para Curitiba. Depois, ao ser promovida para procuradora de Justiça, ela reassumiu as atividades do Ministério Público do Paraná na procuradoria de Justiça, em Curitiba”.
A parceria rendeu muitos frutos que beneficiaram a sociedade paranaense. "Na SEJU fizemos a elaboração e conseguimos a aprovação da Lei Orgânica da Defensoria Pública do estado do Paraná (durou cerca de 4 meses e meio). Esta foi sancionada no Dia Nacional da Defensoria Pública, em uma solenidade muito bonita, na UFPR. Foi um grande marco no início da gestão”.
Édina também tinha uma participação ativa nas atividades da Associação Paranaense do Ministério Público (APMP). “Ela atuava na organização de eventos, seminários, simpósios e congressos; questão previdenciária, entre outros. Teve uma atuação historicamente muito importante. Teve uma ocasião que a gente queria fazer a criação da JUSPREV, que é a previdência associativa, nós fizemos um encontro na sede litorânea da APMP, em Matinhos e reunimos vários promotores e o então ministro da previdência. Reinhold Stephanes, que tinha sido ministro da previdência, na época em que a Édina atuou com ele, também participou”.
Ela era muito ativa nas Assembleias. “Foi uma fala dela e o seu posicionamento numa reunião que me fez querer disputar novamente à eleição para a gestão da APMP. Fui eleita na gestão seguinte, ainda em 2005”, complementa.
Maria Tereza fez parte de um dos últimos momentos de Édina dentro do MPPR, elas saíram juntas da instituição, na sede da Marechal Hermes, em Curitiba, em seu último dia. “No último dia que ela esteve na procuradoria e eu também já tinha retornado como procuradora de Justiça, eu fui a última pessoa com quem ela esteve antes de fazer a cirurgia. Nós saímos juntas naquele dia. No dia seguinte ela foi internada para fazer a cirurgia".
Um dos últimos registros fotográficos da amiga, também foi feito por Maria Tereza, no bairro Jardim Social, em Curitiba. "Ela estava com uma aura diferente naquele dia. Acredito que foi uma das últimas postagens que eu fiz no Facebook, essa foto dela, feita no jardim de sua casa ".
O grupo de WhatsApp “Gênero MPPR”, que reúne informações de interesse para as promotoras e procuradoras do MPPR, nasceu como grupo de oração para a Édina. Édina notabilizou-se por seu trabalho na área da infância e juventude, presidiu o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do Paraná (Cedca), entre 2013 e 2014, exercendo, desde maio de 2014, a vice-presidência da Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude (ABMP).
Perfil
Natural de Santo no Antônio da Platina, filha de Arlindo e Maria das Graças. Foi a mais velha de cinco irmãs. Graduou-se em Direito pela Faculdade Estadual de Direito do Norte Pioneiro (1982), em Jacarezinho-PR (hoje Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP). Ingressou no MPPR, em 1985, como promotora substituta, em Jacarezinho. Logo depois, atuou em Ribeirão do Pinhal já como titular; e novamente em Jacarezinho. Esteve um ano em Brasília (DF), período em que integrou o Conselho do Ministério da Previdência Social (1995/1996). Após retornar de Brasília, foi para Londrina, ainda no ano de 1996, quando assumiu a Vara da Infância e Juventude, comarca em que permaneceu durante 15 anos, até o início de 2011.
Foi professora na Fundação Escola do Ministério Público (FEMPAR) em Londrina. Realizou mestrado em Serviço Social e Políticas Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e se especializou na área de Biomédica em Adolescência, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
Em 2014, o câncer começou a dar sinais e Édina foi diagnosticada com metástase no pulmão, o que apontava que a doença já estava bastante avançada. No mesmo ano, passou por uma cirurgia de retirada de dois terços do pulmão. A partir disso, foram dois anos de tratamento. Em 2015, Édina estava bem aparentemente, o que lhe permitir fazer uma viagem para fora do Brasil. Porém, em dezembro a tosse retornou e o tratamento teve que ser retomado. Mesmo, nos piores momentos, Édina foi fiel ao seu otimismo e alegria, enfrentando a situação sem murmúrio ou reclamações. Ela permaneceu trabalhando durante boa parte do tratamento. Ela não resistiu a 2ª cirurgia e faleceu em 22 de março de 2016.
Sua história continua marcando e inspirando a vida de Promotoras e Procuradoras de Justiça do Paraná.
Fotos: Acervo pessoal Lívia Beatriz e família e MPPR.