A associada destaque do mês de setembro é a promotora de Justiça, Nicole Pilagallo da Silva Mader Gonçalves. Mestre em Direito pela UFPR, ela, atualmente, integra o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), de Curitiba. Além dessas atribuições, a entrevistada do mês é também a Diretora de Relações Públicas da PROMED.
A entrevista foi conduzida pela promotora de Justiça e Diretoria de Desenvolvimento Acadêmico da APMP, Andreia Cristina Bagatin. Clique aqui e confira na íntegra.
Curitibana e filha de pais curitibanos, Nicole Mader Gonçalves teve, desde pequena, referências dos avós. Um que trilhou a carreira como advogado e outro e que era médico sanitarista, que veio da Bahia para o estado do Paraná para trabalhar na criação da rede de saneamento básico e, posteriormente, foi um dos fundadores da Universidade Federal do Paraná.
“Gosto de ressaltar isso porque lembro que o Paraná foi construído por nordestinos, pessoas de outras regiões. Uma questão bem heterogênea que contribuiu muito para o desenvolvimento do estado”, disse.
No Ministério Público desde 2013, a promotora relembra que a vontade de se envolver em questões sociais sempre foi muito presente em sua vida, por influência da família e por sua própria personalidade. “Quando criança, na segunda série eu escrevi uma carta para o prefeito cobrando melhorias no transporte coletivo”, lembrou a associada.
Apesar de contar com advogados na família, incluindo o próprio pai, Nicole contou com uma liberdade para escolher a carreira e se decidiu pelo direito pela possibilidade de atuar em situações que envolvessem os direitos humanos. “O que marcou muito foi que eu tive uma família, que embora fosse na década de 80 e 90, me concedeu uma educação que hoje seria tratada como feminista, ou seja, eles nunca me direcionaram para escolher algo. Até me emociono ao olhar para trás e ver que tive essa possibilidade”, destacou a entrevistada.
“Quando era adolescente me engajei mais na temática dos direitos humanos. Escolhi o direito, um curso que poderia proporcionar mais escolhas”, completou. Após iniciar o curso na Faculdades Curitiba, ela, posteriormente, transferiu sua graduação para a UFPR, onde emendou também seu mestrado.
A ideia de ingressar no Ministério Público veio por meio de uma indicação de um dos professores da UFPR. Após todo o período de pesquisa dentro da Universidade, Nicole Gonçalves queria colocar em prática aquela vontade de atuar junto aos direitos humanos e causas sociais. “Quando conversei com o professor Cleverson ele me apontou o Ministério Público. Pesquisei e rapidamente me encantei com a possibilidade da atuação extrajudicial, tive, ainda, a influência do meu pai que trabalhava no Tribunal de Contas. Decidi que gostaria de atuar ali, pela possibilidade da transformação social em múltiplos campos”, contou a associada.
Após passar no concurso do MP, Nicole entrou como substituta em Antonina. Depois trabalhou em Siqueira Campos, Pitanga e retornou para Antonina. Na cidade do litoral, a promotora liderou uma investigação que ganhou destaque nacional envolvendo o Porto de Antonina e agentes públicos. O caso acabou sendo a porta de entrada para atuações ligadas ao crime.
“O caso me mostrou que era possível investigar, nunca havia me visto naquele papel. A investigação foi acontecendo de maneira natural, até pelo envolvimento na comunidade. Quando ele foi aumentando, levei para a coordenadora do GAEMA. Aí que compreendi a magnitude, com o caso sendo compartilhado com o GAECO”, explicou.
Após o período em Antonina, Nicole seguiu para Guarapuava. Inicialmente ela teve como atribuições a substituição de colegas no GEPATRIA e no GAECO. Posteriormente, assumiu o GAECO de Guarapuava, até ser convidada para fazer parte do GAECO de Curitiba.
“Eu tinha uma admiração enorme pelo grupo do GAECO de Curitiba. Quando tive o convite fiquei muito feliz, foi realmente um privilégio. É um grupo de muita troca, com muita diversidade e que possibilita a cada um a contribuir com sua característica pessoal”, afirmou.
Única mulher na equipe, ela destacou a condição de igualdade que encontrou na atuação do GAECO. “Eu dou minha contribuição técnica, não estou ali para contribuir com aquelas características taxadas como femininas. Essa é a grande diversidade, cada um entregar o que possuir de melhor”, explanou.
Por fim, a associada contou que fora da equipe do GAECO encontrou algumas restrições por ser uma mulher, ocupando uma função ligada à investigação criminal. “Percebi o desconforto e desconfiança de outros colegas, de outras áreas, que me questionavam se eu realmente tinha o perfil, se eu podia estar ali. Não somente pessoas mais velhas, não somente homens”, lamentou.
“Ouvi algumas expressões, em algumas ocasiões, com pessoas de fora do GAECO, de outras áreas, que tentando ser gentis, soltavam frases do tipo que "eu participei para enfeitar a reunião". O que mais me incomoda nesses momentos é que a pessoa que faz esse tipo de tratamento não tem noção do quão inadequada e ofensiva ela está sendo. Em busca de ser gentil, transforma a mulher em um objeto, ignorando o fato que estava naquela mesa, assim como os outros colegas, para trabalhar, para discutir ideias”, destacou.
Local preferido: onde minha família estiver.
Hobbie: leitura.
Frase: seja você a mudança que quer ver no mundo.
Confira a entrevista completa: