A associada destaque do mês de março é a Procuradora de Justiça aposentada e, agora, integrante da comissão de apoio da Diretoria de Mulheres da APMP, Elhanei Librelotto. Ela atuou no Ministério Público do Paraná por mais de 35 anos.
A entrevista foi conduzida pela também Procuradora de Justiça aposentada, Valéria Teixeira de Meroz Grilo. Clique aqui e confira na íntegra.
O início
Elhanei é gaúcha do município de Jaboticaba. Após cursar faculdade de direito, decidiu buscar a carreira em concursos públicos. Por algumas coincidências descobriu que estavam abertas as inscrições para o MPPR. Com a concordância dos pais, mudou-se para Curitiba para se preparar para as provas.
“Minha família sempre foi rígida, mas sempre me deu a liberdade para escolher a profissão que eu queria. Então, quando decidi fazer o concurso, falei com meu pai, ele concordou e na sequência vim para Curitiba”.
O ingresso no MPPR ocorreu 13 de junho de 1988 e as primeiras atuações foram no norte do estado, na região de Cornélio Procópio. “Foi a minha entrada, descobrindo a instituição. Por muito tempo ia de ônibus nas cidades próximas, como Assaí e Uraí. Cheguei a morar em hotel em Assaí e comia aquele tradicional Prato Feito”, relembra a associada.
Mudança para dois vizinhos
A primeira mudança de região da associada foi para a comarca de Dois Vizinhos, no sudoeste paranaense. Foi neste local que Elhanei se deparou pela primeira vez com casos específicos de violência contra a mulher.
“Foi um choque. Eu tinha 23 anos e as mulheres vinham direto no gabinete relatando agressões, mostrando as marcas. Era um processo difícil, na época nós fazíamos as notificações para fazer o acompanhamento. Foi um tempo muito marcante para mim”, contou.
Ainda em Dois Vizinhos, ela passou por outra situação difícil na profissão, quando chegou a ser ameaçada às vésperas de um júri em que participaria na cidade de Cascavel. “Ligaram várias vezes à noite dizendo que me matariam e eu, muito jovem, fiquei sem dormir. Mas, graças a Deus, participei normalmente no do Júri, fiz meu trabalho e nada aconteceu”, disse Librelotto.
Projetos especiais e família
Em 1991, a associada foi promovida para a comarca de Paranavaí. Neste período teve seu primeiro casamento e o único filho, Johann. Piacentini Librelotto de Almeida Paulo. No município do noroeste do estado, a então promotora de justiça desenvolveu vários projetos e ações especiais voltadas para a população.
“Paranavaí, assim como muitas cidades do interior, tinha muito lixo despejado a céu aberto, tanto comum, quanto o hospitalar. Muitas famílias viviam nesse lixo e nós atuamos muito com os fiscais de meio ambiente e a polícia civil, realizando termos de compromisso de ajustamento com as empresas, fiscalizando e buscando o melhor para a população”, afirmou a entrevistada.
Violência de gênero
Durante a entrevista, Elhanei Librelotto falou sobre a violência de gênero. Ela contou que, no decorrer da carreira, sempre encarou as situações e, por muitas vezes, pouco percebia situações discriminatórias em relação a gênero, mas que hoje, com a difusão do tema, é possível lembrar de muitos casos.
“Nunca tive problema direto com polícia civil, órgãos de fiscalização, sempre me senti respeitada por estes parceiros do dia-a-dia. Mas vejo que, dentro do nosso sistema judiciário, temos muito machismo. Muitas vezes questionavam minha presença em audiências simultâneas, mas não faziam o mesmo com colegas homens. Muitas vezes aconteceu de baterem na porta do gabinete e pedirem pelo promotor, e mesmo eu me apresentando, insistiam em falar com o promotor homem”, lamentou
Música preferida: Epitáfio - Titãs.
Hobbie: Cozinhar.
Frase: “Não existem limites, quem estabelece os limites é você”.