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Outubro Rosa - Maria Lucia Figueiredo Moreira e sua batalha vitoriosa contra o câncer

Confira relato da associada, um incentivo para outras mulheres acreditarem na importância do diagnóstico precoce e do tratamento
14 de outubro de 2022

Em alusão à campanha Outubro Rosa, movimento que realiza ações afirmativas relacionadas à prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama, a Diretoria de Mulheres Associadas da APMP compartilha o relato da associada Maria Lucia Figueiredo Moreira, procuradora de Justiça do MPPR. Sua batalha contra o câncer é um forte de incentivo de luta para outras mulheres que também passam ou passarão por experiências semelhantes, para que, mesmo com as dificuldades enfrentadas no tratamento da doença, continuem a acreditar que a cura é possível.  

Confira abaixo o relato na íntegra.  

 

Oi!  

Meu nome é Maria Lucia e quero contar minha história de convivência com vários tipos de câncer.  

Se você está passando por um momento muito difícil de luta contra essa doença, adianto que também já tive e continuo tendo.   

O primeiro foi câncer de cólon, com duas metástases, uma no próprio intestino grosso e outra no ovário.   

Eu acredito que a minha experiência possa ajudar mais alguém, pois já relatei esses fatos para outras pessoas que também passaram por isso e, modestamente, consegui incentivá-las a continuar o tratamento, sendo que, algumas, também conseguiram a cura como eu.  

Descobri que estava doente a primeira vez em janeiro de 1997, eu tinha 42 anos.   

Há meses sentia muita dor do lado esquerdo, abaixo do abdômen, mas fui induzida por um médico a acreditar que se tratava de cólicas menstruais e depressão.   

Quando descobri que precisava operar, ainda não sabia do que se tratava. Depois de ter feito uma colonoscopia, onde a sonda parou em um tumor, o médico disse que eu teria que fazer uma cirurgia, que foi marcada para o dia seguinte.   

Durante a cirurgia encontraram uma metástase no ovário e retiraram os dois tumores, mas não viram que havia mais uma metástase no intestino grosso.   

Contaram para minha família que eu teria, no máximo, seis meses de vida, mas não me disseram nada.  

Fiquei dez dias hospitalizada e uma semana após, iniciei as sessões de quimioterapia. Fiz três dias seguidos de quimio fortíssima. Ainda não havia colocado um cateter, o que arruinou minhas veias, principalmente, as do braço direito.   

O médico havia me colocado uma sonda na barriga e quando fui tirar os pontos da cirurgia ele tirou esta sonda e colocou um micropore no lugar.   

No quarto dia de quimio comecei a passar muito mal e voltei para o hospital. Fiquei mais dez dias internada, com febre e dores terríveis: eu sentia que ia explodir. Fizeram vários exames e não concluíam nada.   

Cheguei ao ponto de pedir para o meu hematologista que retirasse o soro e me deixasse em paz. Pensei que nunca mais sairia daquele hospital, estava cansada de soro, remédios, veias furadas, enjoos terríveis e todo aquele sofrimento.   

Foi quando ele chamou outro médico, que pediu para examinar meu abdômen e quando passou a mão viu o micropore e retirou-o. O que aconteceu em seguida foi surreal, a pele levantou como um pequeno vulcão e explodiu, jogando para fora toda a infecção que estava me matando.   

Por incrível que pareça, depois disso senti um alívio enorme, mesmo quando ele enfiava uma tesoura com gaze no local, até sair um sangue clarinho, indicando que eu estava livre daquilo.   

No dia seguinte fui para casa, porém os problemas estavam apenas começando, pois meu cabelo caiu inteiro, todos a minha volta falavam: o cabelo cresce não se preocupe! Porém, é claro que uma depressão profunda me abateu, já que não se tratava somente do cabelo, mas da fraqueza, dos enjoos e das dores que a quimio provocava.  

Fiquei três meses de licença médica, coloquei o cateter e passei a fazer quimio uma vez por semana, durante todo o ano de 1997, além de exames trimestrais para ver se a doença não havia voltado.   

Nessa época eu me perguntava: por que isso aconteceu comigo e me sentia muito revoltada.  

Em dezembro de 1997 tirei o cateter e fiz minha última quimio. Eu estava feliz, imaginando que o suplício havia acabado, quando, em meados de janeiro de 1998, fui levar uma prima, que estava com câncer de mama em uma médica proctologista, para que ela fizesse exames de rotina. Minha prima tocou no assunto do meu câncer e a médica perguntou se eu havia feito outra colonoscopia depois da cirurgia e eu falei que não, quando ouvi da médica que eu tinha indicação para fazer o exame.   

Marquei na mesma hora com ela.   

Foi nesse exame que encontraram a terceira metástase.   

No final de janeiro lá estava eu novamente entrando em cirurgia, desta vez com a possibilidade de usar bolsa de colostomia, pois a doutora não sabia se conseguiria tirar o tumor sem retirar o intestino grosso inteiro. Graças a Deus não precisou.   

Após a cirurgia, ouvi o diagnóstico de cinco médicos e três deles disseram que eu não precisava fazer quimio, os outros dois disseram que sim, entre eles meu hematologista, mas eu me recusei. Resolvi que não faria de jeito nenhum.  

Depois disso, continuei com os exames trimestrais por mais um ano.   

A partir de 1999 os exames passaram a ser semestrais, até dezembro de 2011, quando tive forte hemorragia e depois de uma curetagem descobri que estava novamente com câncer.   

Só que desta vez não era uma recidiva, mas sim outro tipo que havia se espalhado pelo endométrio, peritônio, útero, bexiga e rins. Enfrentei nova cirurgia, com o aviso do ginecologista oncologista de que poderia ser inoperável.  

Contudo, mais uma vez tive “sorte”, (pode parecer irônico, mas me considero uma pessoa de sorte, minha proctologista fala brincando que nem Deus nem o diabo me quiseram, por isso continuo por aqui, rsrsrs), o médico conseguiu limpar todos os tecidos com a cirurgia, o resultado da biópsia foi surpreendente: todas as partes retiradas com margem de segurança livre da doença.   

Desta vez não precisei fazer quimio, mas se precisasse estava disposta: devia isto aos meus filhos e netos que quase morreram de preocupação nas três vezes que enfrentei a doença.  

Dessa vez não me revoltei, aceitei tudo só pensando em minha família, pois, enfim, percebi a preocupação e a ansiedade deles.  

Continuei com exames primeiro trimestrais e depois semestrais.  

Em outubro de 2020, descobri que estava novamente com câncer. Desta vez no ureter (câncer de bexiga), com metástase óssea no fêmur direito, agora inoperável, com prognóstico de no máximo um ano de vida. O Exame de PET CT revelou além do tumor principal e das metástases ósseas, vários linfonodos espalhados pelo meu abdômen.   

Novamente fui parar na quimioterapia. Fiz cinco sessões, os cabelos começaram a cair e resolvi, rapidamente, raspar a cabeça.   

Fiz uma biópsia no fêmur que me trouxe uma dor insuportável no local, de modo que tive que combater com morfina, além de parar a quimio e começar a rádio.   

Fiz cinco radioterapias e as metástases do osso sumiram (ficaram sem atividade, no entendimento médico). Então voltei a quimio. Fiz mais três sessões e novo exame Pet CT, que revelou que todos os tumores estavam sem atividade.   

Iniciei, então, em março de 2021 a imunoterapia. Estou na 40a sessão, que faço a cada quinze dias.  

Hoje com 69 anos de idade, faço exames de sangue quinzenais e outros a cada três ou seis meses e continuo com os tumores sem atividade.  

Minha médica, a proctologista, sempre me fala que não existe caso como o meu na literatura médica: de ter câncer de cólon com duas metástases e sobrevivido mais de cinco anos, portanto, sempre penso que o tratamento, por mais doloroso e depressivo que tenha sido, valeu muito a pena, pois valeu a minha vida!  

Espero, sinceramente, que a minha experiência seja de alguma valia e traga alento para quem ler esse desabafo singelo.  

Peço, com muito fervor, que Deus abençoe a todos com a cura, como tem me abençoado e que tenham forças e muita fé para enfrentar o tratamento. Por favor, não desistam!  

Para finalizar, preciso dizer que lembro também, que em 1997 eu não pensei em ninguém: nem nos filhos ou netos, irmãos, sobrinhos, ninguém mesmo. Fiquei completamente cega de tanta injustiça que sentia, por “aquilo” ter acontecido comigo.   

Já, em 2011 e 2020 olhei para traz e percebi o sofrimento e a preocupação dos meus familiares e pude analisar melhor a situação, por isso resolvi que faria qualquer tipo de tratamento que fosse indicado antes mesmo da cirurgia e avisei meus familiares que eu aceitaria o que os médicos recomendassem.   

Às vezes a gente se sente tão angustiado e injustiçado que não consegue pensar em nada nem em ninguém a não ser em nós mesmos, mas qualquer doença causa também um grande sofrimento para todos que estão à nossa volta.   

Se alguém estiver na mesma situação, peço que tente lembrar disso, talvez se eu tivesse alguém que me alertasse, teria pensado muito mais em minha família do que em mim.  

Forte e fraterno abraço, com votos de muita saúde, saúde, saúde!!!  

 

Maria Lucia Figueiredo Moreira  

Procuradora de Justiça  

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