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Ruth de Souza

Foi a primeira dama negra do teatro e da televisão no Brasil
6 de março de 2020

As mulheres negras tiveram papel essencial na dramaturgia brasileira e no sucesso das telenovelas e peças de teatro. Prova disso foi a atriz Ruth de Souza. Primeira dama negra do teatro e da televisão no país, Ruth de Souza foi a primeira artista nascida no Brasil a ser indicada ao prêmio de melhor atriz num festival internacional de cinema, por seu trabalho em “Sinhá Moça”, no Festival de Veneza, de 1954.

Nascida no Rio de Janeiro, em 1921, Ruth Pinto de Souza viveu, até os 9 anos, com a família em uma fazenda, no interior de Minas Gerais. Com a morte do pai, ela e a mãe voltaram a morar no Rio de Janeiro, em uma vila de lavadeiras e jardineiras.

O encanto pelo teatro e pelo cinema surgiu quando ela, junto com a mãe, assistiu no cinema o filme “Tarzan - O Filho da Selva”, de 1932. A menina saiu do cinema decidida a ser atriz. Esta decisão precoce foi motivo de chacota, pois, na época, era difícil ver artistas negras seguirem carreira profissional de atuação, por causa da estrutura social racista.

Mesmo assim Ruth não desistiu de seu sonho. No início da década de 1940, conheceu o Teatro Experimental Negro (TEN), que foi a primeira companhia a promover a inclusão do artista afrodescendente no panorama teatral brasileiro.

Em 1950, Ruth se mudou para os Estados Unidos (EUA), devido a uma bolsa da Fundação Rockefeller, para estudar e pesquisar artes cênicas na American National Theater and Academy, na Karamu House e na Universidade de Harvard.

Ao retornar ao Brasil, a atriz se destacou no cinema e no teatro. Estrelou o filme “Sinhá Moça”, lançado em 1953, que abordou a luta abolicionista nos últimos anos de escravidão no Brasil e foi um dos mais marcantes da dramaturgia brasileira.

No longa, Ruth interpretou a personagem “Sabina”, papel que lhe rendeu o prêmio Saci, entregue aos melhores nomes do cinema nacional pelo jornal O Estado de São Paulo. Ainda pelo mesmo filme, Ruth de Souza se tornou a primeira atriz brasileira indicada para um prêmio internacional, o Leão de Ouro, no Festival de Veneza, em 1954, em que disputou com estrelas como Katherine Hepburn, Michele Morgan e Lili Palmer, para quem perdeu por apenas dois pontos.

Depois de atuar em radionovelas, trabalhou nos teleteatros da Tupi e da Record. Em 1969, integrou o elenco da TV Globo e, neste momento, se tornou a primeira atriz negra a protagonizar uma novela: “A Cabana do Pai Tomás”. Participou, durante cerca de 30 anos, da teledramaturgia da emissora, com novelas como “O Bem Amado”, de 1973; “Sinhá Moça”, de 1986; e “O Clone”, de 2001.

Em 2019, aos 97 anos, Ruth de Souza foi homenageada no Carnaval carioca pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz, com o samba-enredo “Ruth de Souza - Senhora Liberdade, abre as asas sobre nós”, que celebra sua trajetória em versos como “talento é dom pra vencer/preconceito não pôde calar”.

Ruth contribuiu com a reconfiguração do imaginário cultural brasileiro em relação à população negra. Por estrear em palcos menos de seis décadas após a abolição da escravatura, superou preconceitos e tornou-se figura importante na cultura popular e na representatividade da mulher negra na dramaturgia do país.

A atriz faleceu recentemente, em julho de 2019, aos 98 anos, deixando um legado, uma história e portas abertas para muitos jovens artistas negros.

Com informações: Enciclopédia Itaú Cultural, O Globo, Afreaka, e Funarte.

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